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OuremReal

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07.10.15

O passa culpas


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O teatro continua montado!

Durante 4 anos assistimos à peça do “passa culpas”.

De um lado, Coelho e Portas a fazerem tudo o que lhes deu na realíssima gana, mas atirando sempre com as culpas para os outros. Aumentaram impostos, cortaram salários e pensões, venderam as empresas do Estado quase todas, pioraram os sistemas de saúde e da educação, o desemprego atingiu números impensáveis e a dívida aumentou! Mas, tudo isto, sempre por culpa do anterior governo que, além de ter deixado o país a cair na bancarrota, (como argumentavam) ainda chamou a troyka! (que era coisa em que Coelho e Portas “nem queriam ouvir falar”)! Quando decidiram ir além da troyka foi só para mostrar ao FMI, à EU e ao BCE quem, de facto, mandava ...! Muita coragem e alto sentido patriótico...! Sem dúvida!

Foram 4 anos de cassete! PS e Sócrates, nuns dias! Sócrates e PS noutros, para variar! Com a preciosa ajuda da comunicação social do regime e de muitos dos comentadores de serviço que foram incansáveis. Mais a justiça a funcionar, mais o segredo de justiça e as fugas de informação, mais os casos e as cenas mediáticas a que assistimos! Tudo junto...!

Do outro lado, BE e CDU não perderam uma única oportunidade para “malhar” em cima dos mesmos, misturando o PS em tudo o que o governo fazia, porque assinou o memorando com a troyka, assinou o tratado orçamental, só teve governação de direita enquanto foi governo, porque o que é preciso é sair da EU e formar um governo patriótico e de esquerda que nos liberte da opressão de Bruxelas, que rompa com o euro, que nos afaste da NATO e por aí adiante!

Diga-se, em abono da verdade, que o PS se pôs muito a jeito para que tudo isto lhe acontecesse, nomeadamente no segundo mandato de Sócrates, que não chegou ao fim e que nunca devia ter começado! Mas, o que é certo é que de 2011 a 2015 o PS esteve afastado do governo e foi, mesmo assim, o alvo que todos queriam abater!

As eleições do passado domingo, dia 4, fizeram mudar o cenário, mas a peça continua a ter o mesmo nome e os mesmos protagonistas! Só que também mudaram os papéis!

O segundo ato começa agora!

De um lado, Coelho e Portas desceram do pedestal da arrogância e do autoritarismo, trocaram o quero, posso e mando, por uma normal, pelo menos aparentemente, convivência democrática a que a necessidade obriga. Coelho vai, segundo diz, falar com o PS, para que possa dar cumprimento à recomendação do sr. Presidente da República, com vista a conseguir a necessária governabilidade para o país com um governo estável e duradouro. Neste ato, pelo menos no início, o PS passa de “causa de todos os males” a esperança de poder vir a ser a âncora de um governo minoritário que está na forja. Grande mudança!

Do outro lado, BE e CDU deixaram, por enquanto, cair a constante provocação de misturar o PS no caldeirão da direita, passaram a estar disponíveis para assumir responsabilidades governativas e fazem apelos aos socialistas para que se disponibilizem a formar um governo de esquerda. Para os comunistas, o PS só não forma governo se não quiser, dizem! Para os bloquistas, a sua disponibilidade para negociar uma solução governativa com o PS é total! É o que anunciam! Quem diria...!

Aqui chegados, verifica-se que o PS continua debaixo de fogo.

A direita pressiona para que viabilize um governo minoritário. Se o PS não viabilizar dará argumentos para que se repitam cenas já vividas na vida política nacional – o governo cai (por culpa do PS, que não teve sentido patriótico) e a maioria relativa pode passar a absoluta no ato eleitoral que se seguirá.

A extrema esquerda pressiona, porque a única chance que tem de chegar à governação e afastar a direita dessa área, só pode ser com os socialistas. Os seus 36 deputados poderão ser muito mais úteis se somados aos 85 do PS. O não alinhamento dos socialistas com esta solução fará com que recaia sobre si o ónus da decisão e que se retome a retórica de os encostar à direita. O eleitorado mais à esquerda tende a afastar-se.

Por tudo isto, o secretário-geral do PS, António Costa, não tem uma vida fácil! Fora e dentro do seu partido. Fora, porque qualquer que seja a decisão que tome, como acima se refere, o peso dessa decisão será grande e de consequências imprevisíveis. Dentro, porque depois do episódio que levou à ocupação do lugar que era de A. José Seguro, a derrota de domingo passado não deixará de ter consequências. A menos que tudo corra tão bem que seja mais vantajoso não mexer no assunto...!

Seja como for, há palavras que A. Costa vai ter que escrever, (além de outras, claro!) com letras bem carregadas, na sua agenda de cada dia: inteligência, coerência e intransigência

O espectáculo continua! Vamos estar atentos aos episódios que aí vêm!

 

O.C.