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OuremReal

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23.04.11

25 de Abril !


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Releio, por acaso, a carta sobre o achamento do Brasil que Pêro Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal, D. Manuel I, com data de 1 de Maio de 1500.

Porque daqui a dois dias se comemora uma data que não quero esquecer e, porque achei interessante, passo a transcrever, embora de forma resumida, o que o cronista, de há 511 anos atrás, achou por bem escrever, naquele outro dia 25 de Abril, mas do ano de 1500, quando as naus portuguesas, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, depois de, três dias antes, terem avistado terra a que foi dado o nome de Terra de Santa Cruz e estabelecido um primeiro contacto com nativos, lançaram âncora em frente da boca de um grande rio.

 

CARTA A EL-REI D. MANUEL SOBRE O ACHAMENTO DO BRASIL  -  Pêro Vaz de Caminha

Sábado, 25 de Abril

Ao sábado, pela manhã, mandou o capitão fazer vela e fomos demandar a entrada, a qual era mui grande e alta. E entraram todas as naus dentro e ancoraram-se em cinco, seis braças, a qual ancoragem dentro é tão grande e tão formosa e tão segura que podem jazer dentro nela mais de duzentos navios e naus. E tanto que as naus foram pousadas e ancoradas vieram os capitães todos a esta nau do capitão-mor. E daqui mandou o capitão Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias que fossem a terra e levassem aqueles dois homens e os deixassem ir com seu arco e setas, a cada um dos quais mandou dar uma camisa nova e uma carapuça vermelha e um rosário de contas brancas de osso, que eles levavam nos braços, e um cascavel e uma campainha. E mandou com eles para ficar lá um mancebo degredado, criado de D. João Telo, a que chamam Afonso Ribeiro, para andar lá com eles e saber do seu viver e maneira; e a mim mandou que fosse com Nicolau Coelho. Fomos assim de frecha direitos à praia. Ali acudiram logo obra de duzentos homens, todos nus, e com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levávamos acenaram-lhes que se afastassem e pusessem os arcos e eles os puseram e não se afastaram muito. ( … ) E, naquilo, foi o degredado com um homem que, logo ao sair do batel, o agasalhou e levou-o até lá. E logo o tornaram a nós. E com ele vieram os outros que nós levámos, os quais vinham já nus e sem carapuças. E então se começaram a chegar de muitos. ( … ) Andavam ali muitos deles, ou quase a maior parte de todos, traziam aqueles bicos de osso nos beiços. ( … ) Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas, e tão limpas das cabeleiras, que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. Ali, por então, não houve mais fala nem entendimento com eles por a berberia deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. ( … ) E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo acima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela. Nenhum deles não era fanado, mas todos assim como nós. E com isto nos tornámos e eles foram-se. À tarde saiu o capitão-mor em seu batel com todos nós outros e com os outros capitães das naus em seus batéis a folgar pela baía, a carão da praia, mas ninguém saiu em terra por o capitão não querer, sem embargo de ninguém nela estar. Somente saiu ele com todos em um ilhéu grande, que na baía está, que de baixa-mar fica muito vazio, mas é de todas as partes cercado de água, que não pode ninguém ir a ele sem barco ou a nado. Ali folgou ele e todos nós outros bem uma hora e meia. E pescaram, aí andando marinheiros com um chinchorro, e mataram pescado miúdo não muito. E então volvemo-nos às naus já bem de noite.”

 

O.C.