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OuremReal

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14.09.07

Em "ministrês"


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Esta semana ouvi duas "tiradas" da Sr.ª Ministra da Educação que me deixaram, no mínimo, a perguntar a mim mesmo se ando a ouvir bem ou, então, se não será melhor fazer um curso de "ministrês". Sim, ministrês, que é uma linguagem, relativamente nova, que algumas pessoas usam para dizer  que não disseram o que toda a gente ouviu, ou  para falar sobre aquilo de que não percebem, ou, então, muito simplesmente para não estarem caladas. E, muitas vezes, se estivessem caladas era um grande favor que faziam.

Em ministrês fluente dizia-se que a escolaridade obrigatória poderá passar, dentro em breve, para os 12 anos. Para quem não consegue fazer com que a actual obrigatoriedade de 9 anos seja cumprida por uma larguíssima percentagem dos nossos jovens, o que nos transforma na vergonha da Europa... É obra ! Valha-nos o RVCC (reconhecimento, validação e creditação de competências) uma nova descoberta para tentar diminuir o analfabetismo.

Hoje, no telejornal da noite, dava-se conta da descoberta mais recente e não menos bombástica: os professores do 1º ciclo deviam trabalhar mais e melhor para evitar que as crianças reprovassem nos primeiros anos de escolaridade; sim, porque as nossas crianças, enfatizava-se, não são diferentes das dos outros países, e lá não há tantas reprovações. Logo, a culpa, está-se mesmo a ver, é dos nossos professores que não trabalham o suficiente.

O que não se disse, é que nos outros países há culturas diferentes, hábitos diferentes, famílias diferentes, sociedades diferentes, organização e protecção social diferentes, escolas diferentes, e até governos, ministérios e ministros diferentes.

Também não se percebe por que é que, sendo tudo, ou quase, diferente, as crianças não poderão ser diferentes !

Às vezes fica-se com a impressão de que a Sr.ª Ministra tem um trauma qualquer de infância relacionado com a sua escolaridade, tal é a "agressividade" com que parece tratar os professores.

Ou então percebe muito pouco de escolas e crianças do 1º ciclo. Se soubesse das dificuldades e das condições de trabalho de muitas das nossas escolas, talvez falasse de outra maneira.

Mas está sempre a tempo de mostrar que sabe do que fala: Vá lá, a uma das muitas escolas "jeitosas" que por aí há e mostre como se faz. Os professores que "não trabalham bem" ficar-lhe-ão muito agradecidos. Tenho a certeza!

 

O.C.

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