15.06.09
A (in) utilidade das eleições europeias
ouremreal
As eleições europeias foram tudo menos eleições para escolher, conscientemente, a composição do novo parlamento europeu que irá ditar muitas das leis que nos irão condicionar nos próximos cinco anos. Pelo contrário, antes serviram para que os partidos da oposição, da esquerda e da direita, explorassem os descontentamentos sociais e traduzissem toda a sua acção numa tentativa de angariar votos para as suas causas caseiras; ou seja, ninguém quis saber o que o parlamento europeu fez de bem ou de mal, durante o mandato que acaba, nem o que o novo parlamento europeu deveria, ou não deveria fazer, nos próximos cinco anos. Todos se preocuparam em criticar o governo interno pelo que fez, ou deveria fazer, no mandato que está a decorrer.
E a estratégia resultou!
A maioria dos votantes deixou-se embalar pelas melodias dos discursos, mesmo que incoerentes, utópicos, mas agradáveis ao ouvido. E os resultados aí estão:
A nível europeu, os partidos de direita, que já eram a maioria no parlamento cessante, passou a ver a sua maioria reforçada e, portanto, a mandar mais. Os portugueses que votaram PSD e CDS, não só aplaudiram as políticas do PPE (maioritário no parlamento europeu, e onde aqueles dois partidos se enquadram) como, também, lhes conferiram mais poderes para novo mandato. O PPE passou a ter 264 deputados.
Os que votaram no PS viveram a frustração de ver que os seus votos não só não chegaram para evitar a dita "derrota" interna, como não evitaram que o grupo socialista europeu, o PES, passasse a ter, apenas,161 deputados.
Depois, os que votaram CDU e BE animados por discursos inflamados, manifestações com muitos milhares de descontentes e desfiles mais ou menos ruidosos, acabaram na pobreza de um grupo parlamentar europeu de 32 deputados, que é o que a esquerda unitária europeia e os verdes nórdicos conseguiram. (A CDU e o BE enquadram o grupo GUE/NGL do parlamento europeu).
No contexto interno, a direita aumentou a sua força; PSD e CDS, juntos em 2004, tiveram, então, 33,27% dos votos e, agora, 31,7% e 8,37%, respectivamente, o que lhes confere um total de 40,07%, correspondentes a mais 293 800 votos. É, de facto, um aumento significativo que tem correspondência com o que se passou na generalidade europeia.
Do lado da esquerda, o PS baixou de 44,53% em 2004, para 26,58%, agora. Ao que correspondem cerca de 570 000 votos a menos, o que significa uma perda acentuada, em consonância com os congéneres do resto da União.
A coligação PCP/PEV passou de 9,08% em 2004, para 10,66%, em 2009, com mais 70 400 votos, enquanto o BE registou a maior subida, de um só partido, de 4,91%, em 2004, para 10,73%, em 2009, ou seja, mais 214 700 votos, passando, assim, a ser a terceira força política mais votada a nível nacional.
Se a este cenário acrescentarmos a inutilidade prática dos quase 190 000 votos dos partidos sem representação parlamentar, mais os 164 891 votos brancos e os 71 155 nulos, mais uma abstençao de 63,16%, podemos tirar algumas conclusões:
A primeira é inequívoca - estas eleições, se pouca utilidade tiveram para o fim a que se destinavam, serviram para mostrar o descontentamento com a acção do governo, como toda a oposição queria;
A segunda também é clara - internamente, os partidos da esquerda parlamentar têm maior número de votos, mas a direita terá mais possibilidades de governar; na Europa, a direita continua a ser maioritária e a governar;
A terceira é que o número de votos brancos e nulos é tal que merece alguma reflexão; há muita gente que rejeita esta política e estes políticos, e outra, a que nem sequer vai votar, 63,16% dos inscritos, que não se interessa por nada disto.
A quarta conclusão: o eng. Sócrates deveria retirar de tudo isto a lição óbvia - os Portugueses não estão disponíveis para as suas políticas; logo, é preciso deixar governar quem promete resolver todos os problemas.
Fica uma dúvida: será que se justifica o investimento que é feito para uma eleição deste tipo?
O.C.