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OuremReal

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22.05.20

Grande comício!


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Há muito que não assistia a um comício partidário com a intensidade, clareza e objetividade como o que presenciei hoje no telejornal da hora do almoço. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a pretexto de ir a Ovar prestar a sua homenagem e mostrar o seu reconhecimento à população daquele concelho pela maneira como enfrentou o confinamento por causa da pandemia, aproveitou para fazer o que há muito o seu partido lhe “exigia” e a sua consciência de militante lhe estaria a pedir : puxar pelo PSD, pelo presidente do partido, Rui Rio, pelos autarcas do partido, por todos os seus apoiantes e eleitores, porque as sondagens não vão sendo favoráveis.

Todos conhecemos a forma habilidosa e inteligente como Marcelo R. de Sousa conduz a sua magistratura, em especial o seu pragmatismo e a capacidade de, em cada momento, se adaptar às circunstâncias e atuar em conformidade. Ele sabe que o descontentamento nas hostes do seu partido é grande, porque o desconforto de estar na oposição está criando muitos anti-corpos nos quadros mais ambiciosos e muito descontentamento nas suas bases de apoio que, tendo criado expetativas de que ele, Presidente, pudesse ser, de alguma maneira, a oposição ao governo que o partido não consegue fazer, verificam que tal não tem acontecido. Também sabe que o atual presidente do partido, Rui Rio, está longe de ser um elemento agregador e que são mais que muitas as vozes discordantes da sua atuação. O episódio de há poucos dias na auto-europa, em que o primeiro ministro sugeriu a recandidatura de Marcelo e levou muita gente a tirar conclusões precipitadas de se estar perante um apoio do PS a essa recandidatura, também terá pesado para que a ação presidencial ganhasse mais urgência. E aconteceu hoje! Numa autarquia do PSD, Marcelo juntou o Presidente do partido, Rui Rio, ao Presidente da Câmara local e não se poupou em elogios. O Presidente da Câmara foi um herói, antes, durante e depois do confinamento, a população de Ovar mereceu os maiores louvores pelo seu comportamento e Rui Rio, Presidente do PSD e, como diz Marcelo, o líder da oposição, teve um comportamento digno dos maiores louvores e só visto em estadistas de alta craveira, reconhecido não só dentro do País, como no estrangeiro. O facto de ter declarado apoio ao governo nesse cenário de pandemia que nos afetou foi, segundo disse, determinante para os bons resultados que se têm obtido. Foi ainda mais longe! No esforço que fez para realçar a figura do Presidente do seu partido disse que sabe bem como é difícil ser líder da oposição, que já foi, acha mesmo que é mais difícil ser líder da oposição do que ser primeiro ministro, mesmo que nunca o tenha sido.

Um comício como há muito não via! Um comício fora de tempo! Ou talvez não!

 

O.C.

10.05.20

1.º de maio


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Confesso que as cerimónias evocativas do 1.º de maio levadas a cabo pela CGTP, na Alameda, em Lisboa, me passaram um pouco ao lado, porque, dadas as atuais circunstâncias, me pareceu que não poderiam ser muito mais do que um ato simbólico, sem a participação e o fulgor habituais. Acabaram por ser mais ou menos isso, com o relvado da Alameda ocupado com uma coreografia condicionada pelas restrições de distanciamento em vigor, mas, ainda a cerimónia não tinha terminado e já rebentava a polémica, a indignação era mais do que muita, porque era uma afronta, uns não podem sair de casa para ver os filhos, os pais, os netos, a família toda; outros podem ir onde querem; uns não podem sair do concelho de residência e outros podem andar a passear de autocarro de norte a sul, de nascente a poente. Ou, ainda, porque o governo tem medo do PCP, ou porque todos têm medo da CGTP, ou porque alguém quis fazer frete a ambos. Tudo se disse e, naturalmente, há que respeitar a opinião de cada um. A minha opinião sobre o assunto é muito simples:

Ninguém morria e a CGTP não deixaria de ser o que é se o 1.º de maio tivesse sido comemorado de outra forma que não a concentração na Alameda.

Contudo... se entendo que cada um possa ter a sua opinião, não entendo a incoerência daqueles que debateram e aprovaram na Assembleia da República o que acabaria por ser consubstanciado no decreto do sr. Presidente da República, com o n.º 20-A/2020 de 17 de abril, publicado no Diário da República n.º 76, 1.ª série, de 17 de abril de 2020, o qual procede à segunda renovação da declaração de estado de emergência, com fundamento na verificação de uma situação de calamidade pública. .
Diz este decreto, a certa altura do seu preâmbulo:

Tendo em consideração que no final do novo período se comemora o Dia do Trabalhador, as limitações ao direito de deslocação deverão ser aplicadas de modo a permitir tal comemoração, embora com os limites de saúde pública previstos no artigo 4.º, alínea e), do presente Decreto"...

Segundo julgo saber, este assunto foi previamente debatido e aprovado na Assembleia da República por uma maioria em que se incluem PSD e CDS. Daí o não conseguir compreender todo o alarido que os responsáveis destes dois partidos fizeram pelo facto da CGTP ter feito o que fez. Fica-se com a sensação de que há dirigentes partidários que vivem numa permanente dualidade ao terem que assumir uma posição para público ver e não ficar mal na fotografia e outra para o interior dos partidos onde a oposição interna não lhes dá sossego.

O.C.