28.11.16
Caixa Geral de Depósitos
ouremreal
A novela sobre a nova administração da Caixa Geral de Depósitos parece estar a chegar ao fim com o pedido de demissão da maioria dos administradores. E digo que parece, porque o que é mais provável é que aqueles que tudo vêm fazendo para que as coisas corram mal ao nível da gestão do banco público, vão continuar a descobrir novas formas de criar novos episódios que possam complicar ou comprometer aquela gestão. E, por outro lado, os que se lhe opõem são capazes de continuar a cometer erros suficientes para que aqueles continuem a ter argumento para esses episódios.
É sabido que a direita parlamentar pretende que a Caixa Geral de Depósitos deixe de ser um banco público e passe para mãos privadas.
Ao contrário, a esquerda parlamentar pretende que aquela instituição se mantenha como banco público.
É neste contexto de confrontação que teremos de situar e tentar entender estes episódios que se vão sucedendo, uns com mais, outros com menos importância, mas todos a contribuir, negativamente, para a credibilidade do banco público.
Primeiro foi a recapitalização. Conseguida a luz verde de Bruxelas para a injeção de capital, veio o episódio das remunerações com o governo a justificar a exorbitância das mesmas com a equiparação ao setor privado e uma chuva de protestos e críticas de todos os lados. Por último, a entrega ao Tribunal Constitucional das declarações de rendimentos, património e cargos desempenhados pelos novos administradores. Estes a recusarem, num primeiro momento, essa entrega com o argumento de que não estariam obrigados a isso; o governo a atirar a decisão para o T.C. e a oposição a gritar, em coro, que os administradores da CGD estavam obrigados a proceder a essa entrega.
E mesmo depois de o TC ter decidido pela obrigatoriedade da entrega e dos administradores ainda estarem dentro do prazo legal para satisfazer essa obrigatoriedade, a direita parlamentar, pela mão do PSD, apresentou na A. da R. uma proposta de lei com vista a tornar obrigatória a entrega da declaração por parte dos administradores da CGD. O curioso foi o Bloco de Esquerda ter-se associado à direita para fazer aprovar a proposta, com o PS e o PCP a votar contra. Este episódio, para além de se revelar absolutamente desnecessário, mostra, pelo menos, duas coisas: por um lado, a direita não olha a meios para complicar o mais que puder a vida ao ministro das finanças e prejudicar a gestão da CGD, em defesa dos seus objetivos que, em última análise, visam o fracasso do banco público para justificar a sua privatização; por outro lado, a sede de protagonismo do Bloco de Esquerda e o exibicionismo que alguns dos seus membros vêm evidenciando devem servir de aviso ao governo e aos outros partidos da esquerda parlamentar sobre a confiança a ter (ou não) no comportamento deste parceiro que também parece sofrer daquele mal que leva a não olhar a meios para atingir interesses próprios.
O.C.