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OuremReal

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23.03.14

Esquecimento (!?)


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Ex-combatentes lutam contra o "esquecimento". Este é o título de uma notícia que li há dias e se o seu conteúdo me incomoda, não me incomoda menos recordar as causas de tudo isto e alguns comentários que li sobre o assunto.

Sem ter a presunção de ser o dono da verdade (ninguém é), tenho a minha "verdade" que é muito simples:

Se há ex-combatentes é porque houve combatentes, porque houve combates, porque houve uma guerra colonial em três frentes, em simultâneo, Angola, Guiné, Moçambique, (já não falo na Índia, nem em Timor) onde centenas de milhar de jovens se viram envolvidos, aos vinte, vinte e poucos anos, desde o início da década de 60 até ao ano de 1974 do séc. passado, em que alguns milhares deixaram a vida e muitos outros perderam a saúde.

Nesta discussão já não adianta muito saber por que é que se chegou à situação de guerra, quem tinha ou deixava de ter razão, benefícios/malefícios da descolonização, valeu/não valeu a pena, quem tirou ou deixou de tirar proveito de tudo isso. Valeria a pena perceber tudo isso, sim, para que os mais novos não continuassem a ver este assunto como um filme de ficção, para que os desinformados, os desinteressados e os esquecidos pudessem refrescar as ideias, para não continuarmos a dizer e a fazer disparates sobre o assunto. Contudo, não alteraria, no essencial, o que me faz escrever estas linhas, ou seja, continuaria a haver ex-combatentes. E todos eles, para referir só os do “nosso lado”, foram combatentes por uma causa, certa ou errada, pouco importa ao caso, ao serviço do Estado Português. E a esmagadora maioria foi obrigada a ser combatente, não pediu para o ser.

E se o Estado Português foi o responsável pela sua situação de combatentes, também tem que ser responsável enquanto ex-combatentes a sofrer de problemas resultantes daquela mesma situação.

Se é preciso separar os casos de verdadeira relação causa/efeito, de eventuais oportunismos, é também ao Estado que incumbe fazê-lo. E isto não é um favor! É, até, mais do que um dever! É uma obrigação!

Não vale a pena vir com a conversa oca que a culpa é do partido A, do partido B, ou C, do sr. X, ou do sr.Y! Claro que houve culpados! Toda a gente sabe disso! Mas este abandono, este fazer de conta que nada aconteceu, é culpa de todos quantos, ao longo destes anos todos, desde 1961 para cá, têm tido o poder e o dever de ser justos com aqueles que puseram as vidas ao serviço da Pátria e não o foram.

Isto já deixou de ser esquecimento! Já é uma canalhice!

Mas a canalhice não se fica só por aqui! Há um outro lado, escondido, também esquecido, desta canalhice: quando em 1975 aconteceu a independência das ex-colónias, muitos dos naturais dessas ex-colónias que combateram “ao nosso lado” foram abandonados e deixados à mercê dos seus, até aí, considerados inimigos; não custa nada adivinhar o que aconteceu a muitos deles! E esta parte incomoda o suficiente para não dar para esquecer!

E se há males que não têm remédio, outros há que urge resolver, porque as pessoas estão aí, com os seus problemas, as suas vidas complicadas e a solidariedade não pode ser um conceito só para enfeitar uma qualquer lista de intenções transformada em lei.

 

O.C.