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OuremReal

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25.08.13

Ser ou não ser independente!


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1 - Parece estar na moda criticar os partidos políticos, culpá-los de serem causadores de todos os males que afetam a nossa sociedade e servirem de albergue a muita gente que deles se aproveita para singrar na vida, criando-se a falsa ideia de que todas as virtudes estão fora do âmbito partidário.

Convém lembrar que o regime político que governou Portugal no período entre 1926 e 1974, que teve como expoente máximo o dr. Salazar, pensava mais ou menos a mesma coisa e, por isso, resolveu acabar com os ditos partidos, instituindo o regime de partido único, criando a União Nacional, que o mesmo é dizer: partidos sim, mas só os que disserem e fizerem o que eu quero, e como eu quero! Parece fácil perceber que o problema, afinal, não era a existência de partidos políticos, mas sim o facto de se poder pensar e agir de maneira diferente daquela que o dr. Salazar e seus pares queriam. E para que a coisa não falhasse acabou-se com a liberdade de expressão, de reunião e manifestação, instituiu-se a censura prévia, criou-se a polícia política para reprimir tudo o que ousasse mexer com “os superiores interesses da Pátria” e mais uma série de medidas que transformaram Portugal no tal “paraíso” dos bons costumes, do povo sereno, honrado, humilde e trabalhador com que atravessámos quatro penosas décadas até “desaguarmos” no dia 25 de Abril do ano de 1974 do século passado.

É penoso constatar, passados estes anos todos que, contrariamente ao que a maioria dos Portugueses ansiava, não desaguámos mesmo no mar da tranquilidade e que, depois de embalados por melodias de encantar e adormecidos por falsas bonanças, percebemos que caímos na pior das tempestades! Onde, de facto, estamos!

 

2 - E a culpa é de quem? Dos partidos políticos? Do meu ponto de vista, não!

A culpa é (além de outros), em primeiro lugar, e principalmente, de políticos incompetentes, desonestos, mentirosos e oportunistas que não têm sabido conduzir o país para o caminho do progresso, (muitos deles pertencentes a partidos políticos, outros, não).

E estes políticos são pessoas! Que continuariam a sê-lo, tal como são, seja num regime de partido único, seja num regime pluripartidário, ou sem partido nenhum! São pessoas que não prestam, que não merecem confiança, que não podem ter o poder para fazer o que querem.

Com uma grande diferença:

Num regime de partido único, nem contestadas poderiam ser;

Num regime pluripartidário ainda conseguimos denunciar e protestar, por pouco que isso valha, e só voltamos a dar-lhe o poder que não sabem usar, se cairmos na asneira de voltar a votar neles;

Num regime sem partidos, ou outras organizações idênticas, nem pensar, porque seria a escuridão completa – não saberíamos o que eram, o que queriam, como se geriam, como se financiavam, enfim, estas aparentes pequenas coisas que acabam por fazer toda a diferença.

 

3 - Voltando ao princípio desta conversa – a moda de estar contra os partidos políticos, quando ser, ou dizer-se, independente, além de começar a ser chique, começa a ser confundido com ser detentor de todas as virtudes e estar imune a todos os defeitos que possam afetar os que são do partido A ou do partido B.

Afinal o que é um partido político senão uma organização, constituída por pessoas, que são conhecidas, que têm uma determinada ideologia, que é conhecida, que se regem por regulamentos e estatutos, que são conhecidos?

Tudo perfeito? Claro que não! Cometem erros? Claro que sim!

 

4 - Fique claro que não defendo que a única maneira de uma sociedade se organizar politicamente seja através da constituição de partidos políticos tal como os que temos hoje. De modo nenhum! Mas outras organizações cívicas que se criem, só poderão sê-lo com pessoas, naturalmente! Que não serão diferentes das que estão nos partidos políticos! Com ambições, vontades, defeitos e virtudes semelhantes! Ou não será?

O que não podemos é ter organizações secretas, de que não se saiba o que são, o que querem, como funcionam!

Ninguém tem que gostar dos partidos políticos que temos. Muito menos pertencer ou identificar-se com a ideologia de qualquer deles. Daí que constituir a organização X ou o movimento Y, e concorrer a um ato eleitoral, deveria colocar essa organização, esse movimento, em igualdade de circunstâncias, no que respeita a direitos e deveres, aos partidos políticos que concorrem no mesmo ato eleitoral!

Não vejo nisso ameaça nenhuma a nada, antes pelo contrário, parece-me um reforço da democracia, na medida em que promove uma maior participação das pessoas na resolução dos problemas coletivos e seria uma maneira de poder levar os partidos políticos a rever e, até, aperfeiçoar a sua ação na sociedade, se fosse caso disso.

Seria (ou será) do resultado da atuação das pessoas no desempenho dos cargos que poderemos concluir se a bondade desse desempenho tem a ver com as qualidades intrínsecas dos atores ou se, ao invés, tudo resulta de estar ou deixar de estar ligado ao partido A ou B, e passar a estar ligado à organização X, ou ao movimentoY.

 

5 - Se olharmos ao que está a acontecer na campanha que decorre para as autárquicas do próximo mês de Setembro, constatamos, com alguma curiosidade, que há independentes para diversos gostos e paladares – todos respeitáveis naturalmente!

5.1 - Independentes incluídos nas listas partidárias que, não tendo qualquer filiação, simpatizam ou se identificam com esse mesmo partido, ou que anteriormente apoiaram outros e, agora, resolveram mudar; mais os recém desfiliados doutros partidos, ou porque entraram em litígio com os dirigentes, ou deixaram de ter espaço de manobra para o protagonismo que queriam ter, ou porque, simplesmente, deixaram de acreditar no partido a que pertenciam; ou por estratégia ou conveniência.

5.2 – Independentes incluídos em listas não partidárias, recém desfiliados doutros partidos, ou porque entraram em litígio com os dirigentes, ou deixaram de ter espaço de manobra para o protagonismo que queriam ter, ou porque, simplesmente, deixaram de acreditar no partido a que pertenciam, ou por estratégia ou conveniência; mais os simpatizantes de partidos políticos, embora sem qualquer filiação, mas que optam pela candidatura não partidária por lhe parecer a solução mais adequada.

 

6 – Resumindo e concluindo - independentes são pessoas que não têm, ou porque deixaram de ter, ou nunca tiveram, filiação partidária, que integram ou apoiam listas partidárias ou não partidárias e que, por tudo isso, não são melhores nem piores que quaisquer outras – são apenas pessoas!

 

O.C.