30.06.11
Um coelho tirado da cartola
ouremreal
Desde que a direita nacional anunciou a união de vontades e esforços para a constituição de um governo maioritário que a nossa comunicação social, com destaque para as televisões, porque serão as mais vistas, “lidas” e ouvidas, pela generalidade dos portugueses, não se têm cansado de elogiar ministros, ministeriáveis, secretários e secretariáveis (de Estado, claro), como competentes, competentíssimos, os mais isto, os mais aquilo, mesmo que (alguns) sem experiência nenhuma nas áreas para que foram indigitados e nomeados.
- Porque serão, certamente, sobredotados e depressa aprenderão o que não sabem e apreenderão o que, porventura, desconhecem;
- Porque são, muitos deles, independentes, (o que é isso?);
- Porque, enfim, deixou de fazer sentido estar todos os dias e a toda a hora a bater no ceguinho, ou seja, a criticar o anterior executivo e a minar, para dentro e para fora, a sua progressivamente empobrecida credibilidade.
Os críticos, os comentadores, os convidados, os apresentadores/opinadores pararam a sua eloquente e esclarecedora tarefa, porque o grande objetivo foi alcançado: o governo caiu.
Outros (nalguns casos, os mesmos) lançaram mãos à obra e aí estão eles, de alma e coração, na mui nobre e árdua tarefa de informar o país inteiro, das virtuosidades do novo elenco governativo, com destaque para o primeiro-ministro.
- Porque é um poço de virtudes, a começar pela façanha de conseguir formar um governo com o menor número de ministros de que há memória;
- Porque tem um programa de governo que, não sendo mais do que o programa imposto pela troika, revela a coragem de incluir mais uns agravamentos da sua lavra;
- Porque conseguiu formar governo sem fugas de informação (coisa nunca vista);
- Porque só nomeou 35 secretários de Estado, porque é preciso cortar no despesismo;
Enfim, foi criado o ambiente a que o sr. Presidente da República apelou, intensamente, para um governo de amplo apoio nacional e, agora, é só dar-lhe corda e deixá-lo andar o seu caminho, mesmo que tenha que passar, patrioticamente, (sempre), por cima do pagode, dos que têm culpa e dos que não têm culpa nenhuma, até que alguém se sinta e grite bem alto que até se oiça!
E eis que o dia 30 de Junho chegou e, com ele, a apresentação do programa de governo, na nova Assembleia da República, com muitas caras novas, muitos sorrisos onde antes se viam sobrolhos carregados, e vice-versa, e uma grande expetativa.
Só que, quando a expetativa é grande, a frustração mora ao lado.
E, para quem já viu muitos filmes destes, nada de muito importante acontecerá a bem do povo, enquanto for tudo a bem da nação!
Muita retórica, muita intenção, muita desculpa para justificar tudo e mais alguma coisa, muita preocupação com os mais desfavorecidos, muita justiça social (apregoada), muito patriotismo e, sobretudo, muito, mas muito, mais do mesmo…
E, qual golpe mágico, do vazio das indefinições salta uma medida concreta que qualquer cidadão, minimamente instruído, seria capaz de tomar, se tivesse coragem para tal: Corte de 50% no subsídio de Natal. E isto é só o princípio, e para já!
Será caso para dizer que a montanha pariu um rato?
Não, apenas um coelho tirado da cartola, porque não havia lá outra coisa!
Claro que os críticos, comentadores, convidados, apresentadores/opinadores, vão-se entreter, entretendo-nos, se tivermos pachorra para os ouvir, esmiuçando isto e muito mais, com uma argumentação que não deixará, certamente, de comover os cidadãos distraídos, em geral, e os comprometidos, em particular.
O.C.