Ontem cruzei com alguns apoiantes do “Paz sim, N.A.T.O. não” que, cartaz debaixo do braço, iam uns, vinham outros, certamente para dar força à contestação contra a cimeira que parou e incomodou meia Lisboa durante dois dias.
Aquele vaivém deixou-me a ideia de que havia alguma escala de serviço, chamemos-lhe isso, de modo a que houvesse renovação dos intervenientes e a manutenção, em contínuo, de uma atitude hostil que se pretendia activa e bem visível, debaixo do olhar atento do helicóptero que pairou, todo o tempo, sobre a Av. da Liberdade, ora indo até ao Marquês, ora descendo até aos Restauradores.
Não sei se os ditos portadores estavam conscientemente solidários com os dizeres dos cartazes, se estavam convictos do que é a N.A.T.O. e para que serve, ou se estavam em cena só porque sim.
Não sei, nem é importante que saiba. Para o caso, cada um saberá de si! Ou assim devia ser! Pelo que me toca e porque a proximidade de ontem com uma Lisboa diferente me pôs a refletir sobre o assunto, (para além do que é normal), aqui fica uma opinião que valerá tanto como qualquer outra, ou que não terá mesmo importância nenhuma:
- A primeira ideia que fica é que não havia necessidade de tanto aparato, tanto incómodo para os lisboetas, tanta ostentação, para, afinal, fazer o que já estava feito; tantos chefes de estado e de governo, mais secretários de estado, mais presidentes disto e daquilo, mais comitivas a perder de vista, quando uma “dúzia” de pessoas, devidamente mandatadas, teriam feito outro tanto.
- A segunda é que o eventual prestígio para Portugal, com todas estas ilustres personalidades, com todo o sucesso que esta organização possa ter tido, com os rasgados elogios que se ouviram, não resolve os nossos problemas mais urgentes, antes se corre o risco de que os ajudem a agravar. Porque as festas têm custos…
- Em terceiro lugar e não sendo incondicional apoiante do “Paz sim, N.A.T.O. não”, considero-me mais do “Paz sim, N.A.T.O. talvez”.
E porquê?
- Pela simples razão de que de nada adianta sermos “pacifistas” se outros puderem não o ser. E ninguém é ingénuo ao ponto de pensar que o nosso pacifismo será capaz de “comover” os que só têm como arma a violência. E estes existem, independentemente das causas que os levem a agir assim!
- E porque serei pelo “sim” enquanto a N.A.T.O. for uma organização de defesa dos países que a integram, no justo equilíbrio dos seus interesses e no respeito pelos interesses dos outros;
- Serei pelo “sim” ainda que a sua existência seja útil, apenas, como força dissuasora;
- E porque serei pelo “não”, enquanto a organização resvalar para a tutela dos mais poderosos e proceder de acordo com os interesses desses, comprometendo equilíbrios locais, regionais ou mundiais;
- Serei pelo “não” se se passar à teoria futebolística de que a melhor defesa é o ataque, sem que isso seja devidamente comprovado e aceite, depois de devidamente avaliados os riscos de tal procedimento; a todos os níveis!
Ainda hoje não sei se Bin Laden existe ou não; se está no Afeganistão ou em Marte; se valeu a pena ter destruído o Iraque, nem para que serviram as mortes todas que vêm acontecendo por todo o lado.
Também sei que democracia e guerra são “coisas” mais ou menos incompatíveis…
O.C.