18.10.10
Patriotismos
ouremreal
Não sei se haverá algum português que goste, verdadeiramente, das medidas de austeridade impostas pelo governo através do orçamento de Estado que vai a discussão na Assembleia da República e de que já se conhecem algumas das linhas gerais.
Penso que não!
Admito, no entanto, que haja quem seja capaz de as tolerar, por achar que alguma coisa terá que ser feita para corrigir o que vai estando cada vez pior, em cada dia que passa:
- Quase tudo, em geral, a dívida externa, em particular.
Por força da ação e pressão do capitalismo, em cuja dependência nos deixámos enredar.
Por causa da incompetência de sucessivos governos que, não tendo sabido governar, nos foram deixando na crescente dependência externa e foram permitindo que as desigualdades sociais tenham vindo a ser cada vez mais evidentes.
Por causa das forças políticas que, não governando, estão sempre mais disponíveis para dificultar, complicar e agitar do que para apresentar alternativas credíveis.
Por causa do comportamento de muitos dos governados que não têm sabido (ou não têm sido capazes de?) viver de acordo com as suas possibilidades.
Por causa do egoísmo e falta de civismo de quem tudo sabe reivindicar e se esquece de cumprir os mais elementares deveres para com a sociedade em que vive.
Por causa de oportunistas que não olham a meios para atingirem os fins que lhes convêm.
Por causa de corruptos, sem escrúpulos, que ninguém conhece. Nem eu! E que a justiça dificilmente apanha ou não apanha mesmo. Será que existem!?
Por muitas outras razões que cada um de nós encontrará no seu juízo sobre tudo o que se está a passar.
Depois disto tudo vem o patriotismo.
Os governantes, com Sócrates à cabeça, acham que patriotismo é, por um lado, esmagar os portugueses com um orçamento demolidor (senão vem aí o FMI) e, por outro, patriótico também é não chumbar o orçamento na Assembleia da República. Nem que seja preciso “tapar a cara do bicho”, como diria Álvaro Cunhal.
Para a oposição de direita é preferível não ter orçamento do que ter um mau orçamento. E Passos Coelho é o campeão do jogo teatral em que se vem empenhando, para fazer render o peixe, quando está farto de saber que o seu partido se vai abster na votação.
Até porque também é preciso facilitar a vida ao candidato presidencial Cavaco Silva… Patrioticamente, claro! Estrategicamente patriótico! Diga-se.
Para a restante oposição, sob o comando de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, cada um a puxar pelos seus cordelinhos, na disputa pelo 3º lugar do ranking, patriótico é fazer greve e manifestações. E vão votar contra, porque põem o patriotismo acima de tudo.
Os trabalhadores, operários, camponeses, reformados, pensionistas, os beneficiários do rendimento mínimo, do subsídio de desemprego, os desempregados em geral, todos os desfavorecidos e desprotegidos que não estão a coberto de qualquer “guarda-chuva” que os proteja das intempéries da vida só podem agradecer!
Porque, no final da “festa”, estarão/estaremos todos mais iguais. Ou seja, ainda piores!
Ou será que me engano?
O.C.