22.08.08
A notícia e a tragédia
ouremreal
Discute-se, com frequência, como devem ser tratadas pela comunicação social as notícias das grandes (ou pequenas) catástrofes. Se bem que eu ache que as catástrofes são sempre grandes; só são umas maiores que outras. É verdade que são os acontecimentos, agradáveis ou desagradáveis, que devem ser a notícia. Mas, o facto que enforma a notícia pode chegar ao conhecimento dos seus destinatários de diferentes maneiras e por vários meios, consoante os objectivos que se pretendem alcançar.
Ontem caiu um avião comercial em Madrid, tendo morrido 153 dos seus 172 ocupantes. Simplesmente terrível!
A notícia já é tão má que se questiona para que adiantará estar a mostrar imagens de bocados do avião a arder, corpos aqui ou ali, pessoas em macas, familiares destroçados pela dôr, para não falarmos no mau gosto e falta de senso jornalístico ou outro, de pôr um microfone à frente de uma pessoa e perguntar-lhe o que sentiu, ao ir à morgue fazer o reconhecimento do corpo carbonizado do filho.
É verdade que todo o ser humano tem o seu lado perverso e uma grande disponibilidade para a morbidez.. Não espanta que, por exemplo, as notícias televisivas, quantos mais pormenores mostrem das desgraças, mais audiência proporcionam e os jornais, quanto mais intriga, crime e tragédia, mais curiosidade despertam e mais vendas garantem. Somos assim, e ao que parece, quem mais economizar em escrúpulos, mais lucra com as desgraças alheias.
Vem isto a propósito da maneira como um jornal desportivo espanhol, Marca, fez a sua página de abertura, no dia em que ocorreram a queda do avião e um jogo de futebol em que Espanha ganhou por 3-0. As duas selecções perfiladas, certamente em silêncio, e duas frases que me sensibilizam: " La portada que nunca hubieramos querido hacer" e, por baixo: "Hoy no hay nada que celebrar".
Acho que ficou tudo dito. Sem mostrar o que quer que fosse sobre o acidente, e com uma fotografia de duas selecções de futebol (afinal é um jornal desportivo) ficou patente a dimensão da tragédia.
Uma maneira feliz, porque bem conseguida, de noticiar, desportivamente, uma tragédia.
(obrigado a Paulo Henriques pela imagem do jornal que mostrou)
O.C.