20.06.08
O tratado de Lisboa
ouremreal
Não tenho o privilégio de se ser suficientemente entendido em política europeia (nem em política caseira) para saber, sem qualquer dúvida, se é melhor ter o tratado de Lisboa em vigor, ou não o ter, ou qual a melhor forma de o escrutinar. Daí que me questione sobre a real importância e validade de referendos sobre o mesmo. Enquanto me lembrar do que aconteceu entre nós, durante as campanhas para os referendos sobre a interrupção da gravidez e a regionalização, serei levado a desconfiar que tais campanhas servirão para tudo o que apetecer aos seus mentores, para falar sobre todo e qualquer assunto, mesmo que nada tenha a ver com o que está em causa, para atacar A, defender B, iludir, mentir, manipular e, até... falar sobre o que é importante...!
Não se fez nenhum referendo para entrar para a CEE. E entrou-se, felizmente, digo eu. Porque se estivermos mal nos actuais 27 da UE, bem pior estaríamos se estivéssemos de fora. Não se fez nenhum referendo para receber os milhares de milhões de euros de subsídios ao longo destes anos. E receberam-se, felizmente. Embora nem tudo tenha sido devidamente bem empregue e, ao que consta, alguns possam ter tirado melhor proveito que outros. Mas disto só nos podemos culpar a nós próprios, porque estamos sempre mais disponíveis para reivindicar do que para contribuir, porque somos avessos a sacrifícios e mais receptivos a tudo o que for facilidades, porque temos uma certa tendência para o "olha o meu", porque não soubemos, eventualmente, ao longo dos últimos 20 anos, escolher bons governantes que cuidassem de rentabilizar, da melhor forma, as ajudas que temos tido.
Então, porquê um referendo para aprovar, ou rejeitar, o tratado de Lisboa?
Para dar a conhecer aos Portugueses o conteúdo desse tratado, suas vantagens e desvantagens, informá-los, deixá-los reflectir e decidir, dirão uns. Para "fazer a cabeça" aos Portugueses, conforme interesses de grupo, partido ou religião, e levá-los a decidir em conformidade, dirão outros. É muito claro que, em teoria, todos se revêem no primeiro aspecto, mas, na prática, todos acabam no segundo.
Como na Irlanda, no passado dia 12 !
Num país com cerca de 4 milhões de habitantes, votaram menos de 2 milhões. Destes,53,4% disseram não e 46,6 disseram sim ao tratado. Desde que está na CEE/UE a Irlanda já recebeu qualquer coisa como 40 biliões de euros de subsídios. E só agora é que os Irlandeses se deram conta, através de uma campanha bem orquestrada pelos radicais de esquerda e pela ultra direita católica, o Sinn Fein, dos perigos que correriam com a aprovação do tratado. O perigo que seria a "interferência" da UE no âmbito nacional irlandês, ou, por exemplo, serem obrigados a aceitar uma lei sobre a interrupção voluntária da gravidez, como têm alguns países da União; quando nada disto está no tratado!
É por tudo isto que me surpreende que, por cá, os acérrimos defensores do referendo e adeptos do não ao tratado, PCs / BEs ou quem quer que seja, não tenham já iniciado uma vasta campanha de informação, de âmbito nacional, para alertar os Portugueses para os perigos do tratado.
Porque o perigo, se existe, é igual, com referendo ou sem referendo! E não é o facto de a maioria dos deputados o aprovar na Assembleia da República que faz com que esse perigo desapareça!
O.C.