Quando se fala em polícia, vem imediatamente associada a ideia de segurança, de alguém que está por perto, para ajudar em caso de necessidade, uma presença dissuasora para os prevaricadores e não a ideia de alguém que está à espreita, à espera duma distracção para logo acorrer, livrinho e esferográfica em riste, para passar a multa. Mas, nesta vida tudo muda e, como não podia deixar de ser, a ideia sobre polícia também está a mudar. Por força do nosso quotidiano, naturalmente. E é pena que assim seja! Polícia começa a ser muito mais um obstáculo a contornar, ou mesmo a evitar. O papel dissuasor, e muitas vezes o sancionatório, estão a prevalecer sobre o outro de ajuda de proximidade. Não por culpa dos seus agentes, mas dos papeis que são obrigados a desempenhar e das tarefas que lhe são atribuídas. É certo que, como em todas as profissões, haverá os bons, os assim assim e os que não serão grande coisa, mas é muito importante que sejam bem mandados, ou comandados, e quem não servir, que seja aconselhado a mudar de vida. Vem esta conversa toda a propósito do que é visível, friso bem, do que é visível, na polícia que se vê na cidade de Ourém. De vez em quando, passa um carro com dois. Em serviço, certamente. Mas que serviço? Passam junto de automóveis mal estacionados, de dia ou de noite, a estorvar quem precisa de andar sobre o passeio, e nada fazem. Os assaltos, principalmente de noite, continuam a acontecer. E de dia também acontecem. Aparecem, a pé, com frequência, junto dos estacionamentos pagos, a ver se há tickets nos carros ou se já estão fora da hora para passar a respectiva multa. São capazes de passar uma tarde com o radar na saída do Regato para multar, e bem, quem ultrapassa os 50, mesmo que não ponha nada nem ninguém em perigo, e não vêem os excessos de velocidade que passam, por exemplo, junto à porta do seu próprio Posto. Foram multar, e bem, alguns automobilistas que no dia da inauguração do Modelo, puseram o carro onde não deviam; mesmo que não estivessem a incomodar ninguém. Não multaram muitos outros que estavam mal estacionados, e a estorvar, só porque não estavam em cima da calçada acabadinha de estrear. Como ignoram, dia após dia, noite após noite, os muitos que continuam a usar os passeios para estacionar, alegadamente porque não há parques de estacionamento. Com a bagunçada que a Câmara Municipal criou no trânsito à volta do hipermercado, com sentidos obrigatórios para um lado, proibições para outro, estacionamentos em contramão e falta de sítio para parar tanta lata, foi preciso pôr um agente, com automóvel e tudo, à entrada, para garantir melhor visibilidade aos novos sinais que, não só contradizem os da véspera, como colidem com os traçados do pavimento que não foram retirados. E ali esteve, atento a quem entrava e saía, e completamente indiferente aos que, a poucos metros, estavam mal estacionados e a incomodar. Ora, o desempenho destes papéis e a utilização destes critérios acabam por confundir o comum dos cidadãos e deixam no ar a questão de saber se é, realmente, este tipo de acção que mais credibiliza a nossa polícia. Ou se, afinal, não passamos de um povo altamente indisciplinado a precisar de outra atitude policial.
O.C.