Quem semeia ventos, colhe tempestades!
É um ditado tão velho, quanto actual!
A srª ministra da educação, quando chegou ao ministério que tutela, pôs em prática a velha, estafada e perigosa táctica de criar ambiente favorável à acção que idealizou e que se preparava para pôr em prática. Sabia, antevia, que o alvo, os professores, iriam reagir mal. Logo, era preciso que a opinião pública estivesse preparada para achar que as tais medidas se justificavam e que os professores eram mesmo aquilo que se dizia:
ensinavam mal, porque o insucesso dos alunos era grande; trabalhavam pouco, porque se limitavam a dar as suas aulas e iam tratar da sua vida como se não pensassem mais na escola; tinham três meses de férias e faltavam muito; e não queriam ser avaliados; eram promovidos automaticamente, leia-se, progrediam na carreira, da mesma maneira, os bons, os maus, os assim, assim; enfim, aquelas coisas todas que muito boa gente "já desconfiava" que era mais ou menos isso e, então, se a sr.ª ministra agora vinha com uma conversa a puxar para esse lado, então era mesmo verdade e as tais medidas correctivas já deviam ter vindo há muito tempo.
Pronto! Preparada a terra, era só semear! E assim foi!
A aposentação com 36 anos de serviço e 60 de idade, foi à vida! O "público" aplaudiu, porque se os "outros" só se aposentam aos 65, por que é que os sr.s professores têm que ser diferentes?
Algumas escolas passaram a prestar mais um serviço social, com prolongamento de horários, a tal escola a tempo inteiro, com professores a desempenhar tarefas para as quais não estavam muito motivados. O "público" aplaudiu, porque era preciso ter os filhos ocupados.
As férias (que, afinal, não eram de 3 meses) foram "corrigidas" sem que se mudasse grande coisa, a não ser o tempo de encerramento das escolas, durante as interrupções do Natal, do Carnaval, da Páscoa e do Verão; Os mesmos aplausos, porque os alunos estão menos tempo em casa e mais na escola;
O horário das 35 horas semanais manteve-se, mas a componente sem alunos passou a ser cumprida quase toda na escola, em tarefas diversas, com os professores a queixarem-se de que não têm tempo para preparar as aulas e outras tarefas que respeitam aos seus alunos; continuam os aplausos, porque se os "outros" trabalham 8 horas por dia, por que é que os professores não podem trabalhar 7?
E o célebre estatuto da carreira docente, publicado com o Decreto Lei n.º 139-A, de 28 de Abril de 1990, depois de mexido e remexido em 1997, 1998, 2003 e 2005, foi, pura e simplesmente, pulverizado, com o Decreto lei n.º 15, de 19 de Janeiro de 2007, com 80 e tal por cento dos artigos alterados ou revogados; aqui, não sei se o "público", em geral, está suficientemente informado para aplaudir ou não;
Mas sabe, ou melhor, está informado, de que os professores progrediam na carreira sem serem avaliados e, agora, não querem avaliação. O "público" aplaude, porque acha que devem ser avaliados, sim senhor, para melhorar a qualidade do ensino; pelo menos é isso que ouvem dizer.
Para quem interessar:
Havia avaliação, regulada pelo Decreto n-º 11, de 15 de Maio de 1998, que, tal como o actual, o Decreto Lei n.º 2, de 10 de Janeiro de 2008, não garante a tal melhoria da qualidade do ensino, como se apregoa. O primeiro, nesse aspecto, era de uma ineficácia completa; o segundo é um absurdo de burocracia e conflitualidade.
E há, ainda, a invenção "luminosa" dos professores titulares que só se entende como uma das peças da estratégia para criar o tal clima propício; ou seja: os professores são avaliados por professores, logo, é preciso que estejam uns de um lado, outros do outro; dividir para reinar é uma velha táctica; os mais antigos foram "promovidos" a titulares, no pressuposto de que antiguidade e competência são a mesma coisa; e os que não são titulares vão ter que se esfolar para algum dia o serem, porque o crivo, agora, é muito apertado e o "numerus clausus" estraga o resto. Acho que, aqui, o "público" não aplaude todo da mesma maneira;
Juntemos o novo regime de autonomia, gestão e administração dos estabelecimentos públicos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, publicado com o Decreto n.º 75, de 10 de Janeiro de 2008, para percebermos a real importância que o poder central dá a cada um dos componentes da comunidade educativa no funcionamento das escolas. O "público" aplaude, no convencimento de que quanto mais puder intervir na vida da escola, melhor esta será.
A sementeira da sr-ª ministra, de que aqui fica um pequeno retrato, não demorou muito a dar frutos:
- escolas fechadas a cadeado por alunos, por encarregados de educação, ou por não sei quem;
- professores descontentes, desmotivados, desautorizados e até agredidos;
- professores a fugir para a aposentação a todo o custo;
- muita gente com vontade de não cumprir a lei da avaliação e não me admiraria muito se a causa fosse angariando cada vez mais adeptos;
- manifestações com 120 000 na rua, a protestar; não sei se eram todos professores, mas tanto faz;
- sindicatos em braço de ferro com a ministra, com os activistas do costume a ter tempo de antena suficiente para que se fique com a ideia de que têm sempre razão e não se perceba que, também eles, têm culpas pela actual situação;
- manifestações "espontâneas" convocadas por sms, com alunos que recebem a ministra e secretários de estado com tomates e ovos e que vão para a rua protestar, porque não querem o estatuto do aluno;
-aproveitamento político da situação, com dirigentes partidários a fazer de conta que estão mais preocupados com os problemas dos professores do que com os votos que possam arrecadar para o respectivo partido;
Em conclusão:
A sr.ª ministra, a quem a teimosia parece ter tirado a lucidez necessária para dar a volta por cima, tanto semeou que, agora, é só colher.Faça bom proveito!
O.C.